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segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Coelho da Páscoa...

Adoro conversar com crianças. Os diálogos – ao menos para mim – são sempre produtivos e vão para além das palavras, permanecem por muito tempo presos dentro do meu silêncio, refletindo cada palavra que saem das crianças, nas suas belas visões de mundo...distorcidas, mas cheias de verdade.
Beatriz (minha filha) e Yasmin (minha sobrinha) como todas as crianças são poços profundos de ingenuidade – aos quatro anos de idade – e de conclusões fantásticas sobre a forma de ver o mundo. Beatriz Vilar, por exemplo, é dada a reflexões constantes, com interrogatórios desconcertantes para um adulto. Porém, exige respostas imediatas e que a convença de que se trata de explicações sérias. Beatriz sempre reage veementemente quando é tratada como criança. Do auge de seus quatro anos de idade, ela sempre afirma: “Isto é mentira, pai!”.
Isto vale tanto para a confortável Cegonha, quanto para o encantador Papai Noel, que ela afirma categoricamente que sou eu vestido de vermelho e com uma barba falsa. Eu ainda tento, inutilmente, convencê-la do contrário. “Como é que pode pai, quando o Papai Noel aparece no Natal, você some?”, indaga, para logo em seguida me pôr em desespero ao afirmar que “Papai Noel não existe!”. “Minha filha, assim quando chegar aos seis anos você vai ler Assim Falou Zaratustra”, replico. “Eu prefiro o Cebolinha”, retruca a pequena. Aliviado, eu penso: “Ainda bem!”.
Coelhinho da Páscoa? Beatriz não consegue ser convencida - nem se deixar convencer – de que um coelho consiga por ovos de chocolates. “Ai, Meu Deus Beatriz. Eu juro que eles põe ovos de chocolate”, disse eu certa vez, caminhando dentro de um shopping com ela. “Pai, quem põe ovo é galinha! No máximo, os coelhinhos levam os ovos que eles fazem para um supermercado”. Bem, pelo menos ela ainda vê algum coelho no meio dessa história toda.
Esta semana, Beatriz veio com mais uma das suas tiradas. Desta vez conversando com a mãe. Ao saber que a bisavó que ela tanto gostava havia falecido, Beatriz fez alguns questionamentos sobre vida e morte. Minha esposa resolveu dizer que “a Bisa” – como Beatriz se refere as duas bisavós – “tinha ido morar no céu, porque o Papai do Céu a havia chamado, mas que ela havia deixando um beijo e disse que a amava antes de partir”.
Beatriz ficou olhando por alguns segundos para a minha esposa. Calada, em silêncio profundo. Passados os segundos, ela devolveu: “Ele que nunca me chame, porque eu não vou não. O máximo que eu posso fazer por Ele é ser astronauta, porque aí eu vou lá ao céu, O visito e volto”, colocou. Beatriz ficou revoltada com este ato unilateral e monocrático das convocações divinas.
No domingo, ela voltou a tocar no assunto, quando estávamos eu, ela e meu pai (o avô dela). Meu pai disse a ela que estava ficando velho. Ela respondeu: “Está não, vô! Velho é o meu outro avô que já tem cabelos brancos. O seu ainda é pretinho, pretinho...”. Depois de levar meu pai até o elevador, ela voltou perguntou para mim: “Pai, porque Papai do Céu chama as pessoas que tem o cabelo branquinho? Ela gosta tanto assim dos velhinhos?”. Fiquei sem resposta. Logo em seguida, ela emendou: “Pai, você tem alguns cabelos brancos e vai acabar ficando mais velho que o meu avô. Pinte o cabelo para não ser chamado”! É, coisas de Beatriz...

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