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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Elogio

Beatriz Vilar saboreia um chocolate na Kopenhagem:
- Ah, Meu Deus. Chocolate é maravilhoso, fantástico, divino, saboroso, delicioso...
- Minha filha, quanto elogio...
- Pois é, e tem pessoas que gostam mais de almoço!

Mãe, fala com o pai

No domingo, Beatriz e a mãe foram passear no shopping. As duas encontraram com uma amiga da minha esposa na praça central, que comentou:
- Eu li o blog sobre as coisas que a Beatriz anda dizendo. Bem legal.
Minha esposa agradeceu por mim e comentou alguns casos de Bia que ainda não ganharam espaço neste sítio eletrônico.
Depois que a colega saiu, Beatriz olhou para minha esposa e comentou:
- Mãe, posso lhe dizer uma coisa.
- Diga minha filha...
- Fala com o pai para ele não ficar escrevendo coisas sobre mim. Não acho isto certo.
Horas depois, ao retornar para casa, Beatriz veio me abordar:
- Vou fazer um site na internet só pra contar o que você anda fazendo. Quero vê se você vai gostar...

domingo, 29 de novembro de 2009

Dinheiro e felicidade...

Domingo pela manhã! Beatriz se arruma, juntamente com a mãe, para uma volta na praia. Do nada, ela dispara:
- Mãe, eu acho que eu e o pai temos mais dinheiro que você...
- É pode até ser minha filha, mas saiba que dinheiro não traz felicidade.!
Beatriz responde:
- Traz sim!
- Traz não senhora, repete a mãe.
Finalmente, a pequena Bia encerra a discussão:
- Traz sim. Dê dinheiro a uma adulto pobre!

sexta-feira, 27 de novembro de 2009

Não responder...

É noite. Beatriz Vilar consegue se esconder dentro de casa. Todos chamam por ele e ninguém sabe onde a menina se encontra. A avó dela, já preocupada, começa a gritar:
- Beatriz! Beatriz! Beatriz!
Depois de algum tempo de procura, ela é encontrada sentadinha entre um sofá e outro.
- Menina, a gente lhe chamando e você não responde! Quando a gente perguntar por você diga onde está. Por que você não me respondeu? Indaga a avó...
Beatriz, calmamente, levanta a cabeça e responde:
- É feio responder aos mais velhos!

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Desaprovação

- Bia, o pai fez um site sobre você? Digo, todo contente...
- Na Internet? Indaga a pequena Beatriz, de forma indiferente.
- É! Né legal?
- Não acho legal! Não quero ninguém falando da minha vida, nem contando os meus segredos!

Conversa de meninas

Beatriz entra em casa e passa como um raio direto para o quarto. Da sala, trabalhando no notebook, eu grito:
- Ei mocinha, vai para onde com tanta pressa?!
Ela volta:
- É que eu cheguei agora da escola pai, estava com a minha avó passeando!
- Passeando?! Hum, muito bem. E você nem me chama?!
- Não precisava você ir. Estamos apenas tendo uma conversa de meninas. Você não precisava ir, pois eu não ia comprar nada mesmo!

Chocolate é coisa séria

Beatriz conversando com a tia:
- Eu tenho chocalte para você! Afirma a tia.
- Cadê? Eba, eba, me mostra. Cadê? Cadê?
- É não. É brincadeira, tem chocolate nenhum não!
A tia começa a rir. Porém, Beatriz permanece séria e com o olhar fixo e arremata:
- Chocolate é coisa séria. Não se brinca com chocolate, tá me ouvindo!?!

O susto assustador II, a missão.

Depois de uma experiência não bem sucedida com o susto que sua avó lhe deu para parar o soluço, Beatriz Vilar confessou à mãe:
- Mãe, eu estou com soluço de novo, mas não chame a vó não, pelo amor de Deus. Aqueles sustos dela são muito fortes!


PS: indico ao caro leitor que leia "O susto assustador...hic, hic, hic"

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dos valores.

Coloco em uma mão várias moedas e na outra uma nota de R$ 50. Mostro as duas mãos para Beatriz, crente em sua inocência de escolher a mão que está mais cheia, que no caso é a das moedinhas.
- Bia, você quer este monte de moedas ou essa notinha aqui?
Ela olha para as duas mãos. Olha para mim. Olha novamente para as duas mãos.
- Você tem não aquela nota que tem um peixinho desenhado! Eu não quero nenhuma das duas mãos. Quero a nota do peixinho...
Eu começo a rir.
A minha esposa ao lado pergunta:
- Que nota é essa do peixinho, que eu nunca decoro o bicho das notas?
- É a nota de R$ 100, Vanessa. É a nota de R$ 100.
Beatriz ainda complementa:
- Mãe é o "1" com um monte de zerinho. Aqui só tem o cinco com um zero só. Vale menos!

O preço do irmão

- Pai, eu queria um irmãozinho...
- Um irmão ou uma irmã?
- Um irmão. Eu não quero uma menininha...
- Ah, Bia, mas um irmão custa tão caro minha filha...
- Pai, pelo amor de Deus, um irmão fica na barriga da minha mãe e não numa loja. Você não entende nada mesmo de meninas...ai, ai, ai...

O susto assustador...hic, hic!

23 horas de um dia de semana. Beatriz Vilar – ao contrário dos desejos de qualquer pai ou mãe cansados do trabalho e precisando acordar cedo no outro dia – não se rende aos encantos de Morpheus. Nada de dormir. Para piorar, com soluço.
Quanto mais soluça, mas indignada Beatriz fica. Ela reclama e pergunta a mãe como fazer para o soluço parar.
Minha esposa, fazendo de conta, dá um susto na pequena, olha para ela e faz:
- Buuuuuuuuuuuuuuuuuu...
Beatriz rir e soluça:
- Ê, hic hic hic, o susto da mãe nem adiantou....
Novamente, a mãe:
- Buuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu...
Beatriz continua soluçando e rindo
- Hic, hic, hic... Porém, ainda indignada com o soluço que não passa.
Nisto, entra a avó dela no quarto e diz para a minha esposa:
- Vanessa, sabe aquele brinquedo da Bia. Aquele boneco que canta sozinho. Eu dei para uma outra criança, viu...
Beatriz Vilar arregala os olhos:
- Meuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu Deuuuuuuuus! Você não fez isso. O meu brinquedinho...
A menina se desmancha em lágrimas.
Todo mundo corre ao redor dela e unissonamente: “É não Bia! A vó está brincando. Foi para lhe dar um susto e o soluço passar”.
Ainda chorando, Beatriz olha a sua volta e manda ver:
- Os sustos da minha avó são muito assustadores!

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Não se confie...

Beatriz começa a encrencar com a avó na sala de estar
Eu – na cozinha – fico escutando as “peraltices” e as respostas deselegantes dela. Quando a pequena passa dos limites, levanto da mesa onde estava almoçando, vou até a sala e falou com ela.
- Moça, pare com este tipo de comportamento. Está me ouvindo?
Ela para e simplesmente balança a cabeça afirmativamente. Quando viro as costas e vou me encaminhado para a cozinha, ainda escuto ela falar com avó.
- Não é sempre que ele vai estar aqui!
Ela foi direto para o castigo...ficou sem chocolate durante dois dias...

Eu, nunca...nunquinha

Sempre que Beatriz Vilar faz algo errado, eu a chamo para conversar. Eu sento em uma poltrona da sala de estar. Ela em outra.
Sempre o mesmo ritual:
- Bem, Bia, vamos conversar.
Ela quase sempre arregala os olhos apreensivos. Os maiores medos: ficar sem chocolate, ou sem a televisão.
Eu começo:
- Bia, sua avó me disse que você se comportou muito mal, enquanto eu e sua mãe estávamos no cinema. Antes de sair eu combinei com você de que era para se comportar direitinho, não foi?
- Hum rum! Responde Bia olhando para os próprios pés.
- Você se comportou mal?
- Euuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu! Nunca faria isso em toda a minha vida. Nunca, nunquinha!
- Bia, não minta.
- Foi só uma vez bem pequenininha assim, diz Beatriz mostrando a curta distância entre seu polegar e o indicador.
- É, mas não é mais para se comportar mal está ouvindo
- Certo. Eu não me comporto mais mal quando vocês forem ao cinema.
- Bia, não é só quando formos ao cinema. É toda vez, e em qualquer lugar!
- TODA VEZ????????? Indaga Beatriz Vilar sem acreditar no que está ouvindo.

Das necessidades

- Pai, eu preciso muito de uma Barbie nova!
Foi com esta frase que certa vez foi interpelado por Beatriz Vilar assim que abri a porta de casa, acabando de chegar do trabalho. Eis que rebato:
- Bia, acho que “precisar” é um termo muito forte. A gente precisa é de amigos, amor, carinho, enfim...
- Tá. Então eu preciso de uma Barbie que venha com amigos, amor e carinho!

Comer, comer...

A pequena Beatriz Vilar, 4 anos, tem um cardápio muito reduzido. É uma das poucas crianças que conheço que odeiam – não gostar é muito pouco para definir – batata fritas, pizza e lasanha. Seus pratos preferidos são picanha e salmão.
Evidentemente que a gente sempre insiste para que ela coma de tudo. Enfim,
Mas, de outra para outra – sem que ninguém mais precisasse insistir – Beatriz começou a comer bem e almoçar divinamente.
Foram muitos os elogios. Um delas veio da própria mãe, no caso minha esposa:
- Muito bem, Beatriz. Comendo tudo para ficar forte e grandinha.
- Não, mãe. Eu como o almoço só para não ficar sem sobremesa mesmo.
Depois de alguns risos, a pequena Bia ainda emendou:
- É. Eu sou interesseira!

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Gorduxinho"

Beatriz Vilar, 4 anos, assistia um desenho animado no Discovery Kids. Um dos personagens era um bichinho azul, gordinho e baixinho. Ela ria muito enquanto assistia. O problema é que a história nada tinha de engraçado. Mas, ainda assim ela continuava rindo.
Incomodado com as risadas gratuitas dela, eu indaguei:
- Minha filha, do que você ri tanto?
- É que esse bixinho azul parece com você pai, muito engraçado...hahahahahaha...
- Como assim parece comigo?
Ela desce da cama vem e minha direação, aperta as minhas duas bochechas e manda:
- Ele é assim baixinho e gordinho, igual a você meu gorduxinho querido, que eu amo tanto, ui, ui, ui. Meu gorduxinho bunitinho preferido....
É, eu poderia ficar calado...

Castigo do Papai

Beatriz Vilar define os dois "avôs", como o que dá chocolate (que é pai da mãe dela) e o que dá docinho e pipoca (que é o meu pai). Belo dia, ela reclamava para o avô "que dá docinho e pipoca":
- Vô, o meu pai brigou comigo!
E o avô dela responde:
- Mas, ele é o seu pai. O que você fez?
- Vô, ele é o meu pai, mas é o seu FILHO. Você pode colocar ele de castigo.
Meu pai, sem ter o que dizer e surpreendido, devolve:
- Tá bom! Eu vou falar com ele.
Depois do assunto resolvido, Beatriz Vilar olha para mim:
- Contei tudo para o seu pai, viu!
Pronto: simples assim...
Devo confessar, fiquei até com medo de ficar de castigo...

Beatriz e as regras

A pequena Beatriz tem trabalhado em um “manual de regras para adultos”. Segundo ela, é uma forma do pai e da mãe compreenderam o que são as necessidades de uma criança. Conversei com ela sobre isso, depois que minha esposa me chamou a atenção para o fato. Sentei com ela em sua pequena cama e perguntei o que seriam estas regras que ela estava criando para que eu e a mãe dela respeitássemos.
- Pai, é simples. Você quer que eu me comporte bem e eu quero que vocês saiba o que é ser uma criança e do que elas (as crianças gostam) então existem regras. A número 1, a número 2, a número 3, a número 4 e outras que vou inventar. Já disse algumas a mãe.
- Então me explique quais são elas?
- Ah, pergunte a sua esposa que ela sabe. Já conversamos sobre isto!
- Mas eu queria saber diretamente de você que é a criança da casa!
- Aí meu Deus, os pais são sempre tão complicados. Olhe só, regra
número 1: as crianças usam mais a televisão que os adultos, então primeiro os desenhos, pois crianças não gostam de filmes de adultos e novelas. Regra número 2: crianças brincam até ficar cansadas e dormem por si só...e por aí foram as listas de regras...
- Ok, Beatriz! Disse ao levantar-me da cama e me encaminhar para sala.
Beatriz também levantou, me seguiu e fez uma ressalva:
- Pai, não é uma regra, mas você precisa molhar menos o banheiro ao sair do banho e bagunçar menos o quarto!

Pipoca da Mamãe

Precisei ir ao shopping pagar algumas contas e perguntei se Beatriz queria ir comigo. Minha intenção era fazê-la sair de casa para deixar a minha esposa descansar, já que ela estava adoentada. Beatriz não pensou duas vezes. “Quero ir sim”, respondeu...
Ao entrar no carro fez sua primeira pergunta:
- Pai, a gente vai ao shopping para você comprar um presente para mim?
- Não minha filha. Vou pagar umas contas e você aproveita e dar um passeio.
- Mas pai, se eu escolher um brinquedo e levar para o caixa, você também não terá que pagar uma conta? Então, é pagar conta do mesmo jeito!
- Ai, ai, ai, Beatriz! Não dá para comprar brinquedo toda hora!
- Tá bom, eu já sei. Você vai dizer: “minha filha, o papai está sem dinheiro”. Você vive trabalhando para ganhar dinheiro e sempre diz que está sem! Complementa Beatriz indignada.
Eu aproveitei para ficar em silêncio. Admitindo que ali tem uma certa verdade. Afinal, trabalhamos demais e o dinheiro teima em acabar antes do fim do mês. Mas segue a viagem ao shopping. Antes de sairmos de casa, minha esposa deu recomendações expressa para trazermos um pacote de pipoca para ela. Mas, eu – diante de inúmeras contas a serem pagas – acabei esquecendo. Aí reside o segundo diálogo, já no caminho de volta:
- Beatriz, esquecemos a pipoca da sua mãe, olha!
- Pai, esquecemos não! Você esqueceu. Eu mesmo não me esqueci, então o problema não é meu. Eu vou dizer à mãe que foi você que esqueceu. Resolva com ela!
- Mas minha filha (disse sem deixar que ela me visse rindo), se você estava lembrada que era para compra a pipoca porque não me lembrou antes de sairmos do shopping.
- Primeiro, a mãe pediu a você. Segundo, eu só me esqueci de lembrar a você e não de comprar...
A primeira coisa que Beatriz fez ao chegar a casa foi dizer a mãe da minha falha de memória em tom de recriminação.

Coelho da Páscoa...

Adoro conversar com crianças. Os diálogos – ao menos para mim – são sempre produtivos e vão para além das palavras, permanecem por muito tempo presos dentro do meu silêncio, refletindo cada palavra que saem das crianças, nas suas belas visões de mundo...distorcidas, mas cheias de verdade.
Beatriz (minha filha) e Yasmin (minha sobrinha) como todas as crianças são poços profundos de ingenuidade – aos quatro anos de idade – e de conclusões fantásticas sobre a forma de ver o mundo. Beatriz Vilar, por exemplo, é dada a reflexões constantes, com interrogatórios desconcertantes para um adulto. Porém, exige respostas imediatas e que a convença de que se trata de explicações sérias. Beatriz sempre reage veementemente quando é tratada como criança. Do auge de seus quatro anos de idade, ela sempre afirma: “Isto é mentira, pai!”.
Isto vale tanto para a confortável Cegonha, quanto para o encantador Papai Noel, que ela afirma categoricamente que sou eu vestido de vermelho e com uma barba falsa. Eu ainda tento, inutilmente, convencê-la do contrário. “Como é que pode pai, quando o Papai Noel aparece no Natal, você some?”, indaga, para logo em seguida me pôr em desespero ao afirmar que “Papai Noel não existe!”. “Minha filha, assim quando chegar aos seis anos você vai ler Assim Falou Zaratustra”, replico. “Eu prefiro o Cebolinha”, retruca a pequena. Aliviado, eu penso: “Ainda bem!”.
Coelhinho da Páscoa? Beatriz não consegue ser convencida - nem se deixar convencer – de que um coelho consiga por ovos de chocolates. “Ai, Meu Deus Beatriz. Eu juro que eles põe ovos de chocolate”, disse eu certa vez, caminhando dentro de um shopping com ela. “Pai, quem põe ovo é galinha! No máximo, os coelhinhos levam os ovos que eles fazem para um supermercado”. Bem, pelo menos ela ainda vê algum coelho no meio dessa história toda.
Esta semana, Beatriz veio com mais uma das suas tiradas. Desta vez conversando com a mãe. Ao saber que a bisavó que ela tanto gostava havia falecido, Beatriz fez alguns questionamentos sobre vida e morte. Minha esposa resolveu dizer que “a Bisa” – como Beatriz se refere as duas bisavós – “tinha ido morar no céu, porque o Papai do Céu a havia chamado, mas que ela havia deixando um beijo e disse que a amava antes de partir”.
Beatriz ficou olhando por alguns segundos para a minha esposa. Calada, em silêncio profundo. Passados os segundos, ela devolveu: “Ele que nunca me chame, porque eu não vou não. O máximo que eu posso fazer por Ele é ser astronauta, porque aí eu vou lá ao céu, O visito e volto”, colocou. Beatriz ficou revoltada com este ato unilateral e monocrático das convocações divinas.
No domingo, ela voltou a tocar no assunto, quando estávamos eu, ela e meu pai (o avô dela). Meu pai disse a ela que estava ficando velho. Ela respondeu: “Está não, vô! Velho é o meu outro avô que já tem cabelos brancos. O seu ainda é pretinho, pretinho...”. Depois de levar meu pai até o elevador, ela voltou perguntou para mim: “Pai, porque Papai do Céu chama as pessoas que tem o cabelo branquinho? Ela gosta tanto assim dos velhinhos?”. Fiquei sem resposta. Logo em seguida, ela emendou: “Pai, você tem alguns cabelos brancos e vai acabar ficando mais velho que o meu avô. Pinte o cabelo para não ser chamado”! É, coisas de Beatriz...

Oh, dúvida cruel

Sábado. 19 horas. Depois de um dia de trabalho, eu e minha esposa decidimos dar uma volta com Beatriz Vilar. Mas, sabemos que nossa filha não apenas possui livre arbítrio, como faz questão de nos lembrar sempre que este direito e inato e irrevogável a ela.
Desta forma, não basta apenas decidirmos sair. É necessário contar com o aval de Beatriz Vilar. Em caso de não possui este, tentar convencê-la.
Não foi diferente neste sábado.
- Bia, você quer sair.
- Hummmmmmm, não sei! Para onde?
- Dá uma volta no shopping, algum restaurante. Só não cinema, porque não tem filme de crianças.
- Vou decidir.
Enquanto isto, minha esposa coloca a “roupa de sair” e a “camisola” – ambas de Beatriz – em cima da cama. Logo em seguida, a leva para tomar banho.
Meia hora depois, como é o banho de quase todas as mulheres que eu conheço, Beatriz Vilar entra no quarto, enrolada na toalha.
Vanessa – minha mulher – pergunta:
- E aí minha filha? Você vai sair?
Beatriz – do auge da sabedoria de seus quatro anos respira fundo – olha para a camisola, olha para roupa de sair. Volta a olhar para a camisola. Volta a olhar para a roupa de sair... e faz este exercício por diversas vezes, até fechar os olhos em completo desespero, levar as mãos a cabeça e começar a bater na própria testa com a palma da mão e repetir:
- Pensa Bia, Pensa Bia, pensa Bia, pensa...

O jogo de Futebol

Beatriz Vilar é apaixonada – ainda que sem entender ao certo as regras e para qual lado o time dela joga e corre – por futebol. Quase sempre, quando se iniciam as partidas, ela senta do meu lado e fica prestando atenção no “corre-corre” dos atletas, por menos 30 minutos do primeiro tempo.
Palmeirense por imposição do pai, a pequena acabou aprendendo a amar as cores verde e branco. Basta me ver com a camisa do time, que pede para vestir a dela também. Ficamos os dois na frente da televisão. Eu roendo as unhas – como quase sempre – com a palavra solta.
Cheguei – inclusive - à conclusão de que a pequena Beatriz Vilar faz perguntas sobre futebol na seguinte proporção: quanto mais humilhante a situação do Palmeiras, mas as perguntas são perspicazes e – por vezes – irritantes, eu diria que até humilhante para quem já está suficientemente deprimido com a derrota de seu time de futebol.
Mas, Beatriz Vilar não tem pena de nada, nem de ninguém. Do alto de sua sabedoria, a pequena reversa entre olhar a tela da televisão e fixar as órbitas oculares nas minhas unhas ruídas.
Eis que ela começa:
- Pai, por que o Palmeiras perdeu novamente?
Eu olho para ela com um silêncio que por si só já é a resposta.
Mas, Beatriz Vilar não se contenta.
- Pai, o Palmeiras não é o de verde?
- É...
- Então, por que o Palmeiras perdeu novamente?
Não há – definitivamente – como deixá-la sem resposta...
- Bem, Beatriz, não se pode ganhar todas, não é mesmo? Às vezes, no esporte, a gente ganha. Às vezes, a gente perde. O importante é torcer. Vibrar e se emocionar com o fato de ser apaixonado por futebol, no nosso caso pelo Palmeiras.
- Ah, tá! Então hoje eu vou torcer por este outro time. Quando o Palmeiras ganhar, eu torço por ele.
- Mas, não se pode ser assim Bia. A gente tem que aprender a ganhar e a perder.
- Certo. Então, porque o Palmeiras não ganha pelo menos as partidas em que eu estiver assistindo.
Eu suspiro.
- Vou falar isso para os jogadores do Palmeiras, então. Para que eles ganhem pelo menos as partidas que você tiver assistindo.
- Oxe, se você for falar com eles, fale logo para eles ganharem todas, então!
Bem, eu esqueci a raiva do meu time e cai na gargalhada.